Processos
Buscando reinserir a lã artesanal gaúcha no mercado têxtil, desenvolvemos uma cadeia produtiva justa e ética, com rastreabilidade de matéria-prima , e que resgata e valoriza os saberes e fazeres da mulher rural.
TUDO COMEÇA NO CAMPO
Até a década de 80 a produção de lã como matéria-prima era considerada a segunda principal atividade econômica do Estado do Rio Grande do Sul. Porém, com a entrada dos fios sintéticos e importados no mercado têxtil a matéria-prima natural e artesanal entrou em desvalorização fazendo com que muitos produtores rurais desistissem da atividade, assim como as cooperativas de recebimento, armazenamento e beneficiamento da matéria-prima que, infelizmente, desapareceram da cadeia produtiva.
Atualmente o rebanho gaúcho declarado é de 2,80 milhões de animais e a produção de lã, em 2018 (última estatística) foi de 8,18 milhões de kg. A grande maioria dessa produção é exportada e pouco
Por isso, nós valorizamos o pequeno produtor rural e a agricultura familiar. Buscamos estabelecer vínculos de fornecimento com produtores de rebanhos pequenos e que tenham o bem estar e a qualidade de vida animal como prioridade.
ESQUILA
A esquila (ou tosquia) é um processo importante para garantir o bem estar animal.
A principal tosquia é feita na primavera, para preparar os animais para o verão, isso porque animais submetidos a altas temperaturas, com a pelagem longa, perdem a capacidade de regular a temperatura corporal, perdem mobilidade e passam a não ingerir nutrientes suficientes para seu desenvolvimento.
A higiene é outro motivo para realizar a esquila. Ao longo de um ano de crescimento, os animais acumulam diversos materiais vegetais no pêlo, além de urina e fezes. A não higienização pode levar ao desenvolvimento de fungos e bactérias.
Outra esquila importante de realizar é a “esquila pré-parto”, feita no final da gestação, com todo o cuidado que as fêmeas merecem. Com menos lã as ovelhas se alimentam melhor e o cordeiro se desenvolve com mais saúde. Além disso, facilita o momento do parto e amamentação.
O mais importante, em qualquer uma das situações, é o método escolhido para fazer esquila. O método usado pelos nossos fornecedores deve ser a esquila “Talli-hy” (ou método australiano). Nesse processo de tosquia o animal não é amarrado e a lã é retirada de forma integral, com o uso de uma máquina de corte. Esse método, comprovadamente, diminui o stress dos animais no momento da esquila, evita cortes na pele e garante mais qualidade de matéria-prima.
LAVAGEM
A lavagem da lã pode ser feita de forma artesanal ou industrial, em ambas são necessárias licenças ambientais para controle de resíduos. Hoje trabalhamos com os dois métodos dependendo da lã e da quantidade a ser produzida.
CARDAGEM
O processo de cardagem é o processo que antecede a fiação. Depois de a lã lavada ela passa por uma carda, com o objetivo de “pentear” as fibras e torná-las uma placa para então poder fiá-la.
FIAÇÃO
A fiação, na nossa opinião, e a parte mais bonita do processo. É nessa etapa que existe o verdadeiro resgate da ancestralidade feminina gaúcha e rural. Como já dissemos acima a entrada dos fios sintéticos fez com que a lã perdesse valor e, como consequência, a mulher artesã, responsável pelo beneficiamento artesanal da lã, perdesse seu espaço.
Hoje, buscando devolver o protagonismo produtivo da lã, nossos principais fios são fiados artesanalmente por grupos femininos rurais. Contamos com cerca de 20 mulheres envolvidas no processo de produção em 4 cidades do Estado.
TINGIMENTO NATURAL
O tingimento natural é a última pare da nossa cadeia de produção e ter uma cartela de cores exclusivamente natural é motivo de muito orgulho.
Buscamos vegetais presentes na nossa região, como a erva mate, a carqueja e a macela, além de especiarias brasileiras como a cúrcuma e o tanino. Alguns corantes que exigem uma produção mais especial, como o caso do índigo e da cochonilha, buscamos fornecimento da Etno Botânica, uma empresa brasileira de pesquisa e desenvolvimento de pigmentos e corantes para tingimento natural.
O tingimento natural nos permite ter controle do uso de água, geração de resíduos e ter uma produção com mínimo impacto ambiental.